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O que a natureza desnuda, me incorpora

Raízes: onde ensaio minhas firmezas (2020)

A série “Raízes: onde ensaio minhas firmezas”, meu último trabalho, até agora, e ainda em construção. Faz parte central em minha pesquisa em arte e natureza. Onde investigo minha corpa-planta, através de colagens feitas com fotografias minhas e fotografias de família, tendo as mulheres como eixo que ergue a corpa das produções. 

Registros de raízes das plantas penetram lembranças de família, inaugurando novas memórias de minha história. Dentro dessa possibilidade, em unir imagens de diferentes trajetórias, interferidas, sobrepostas, gerando outras imagens. Raízes, são onde ensaio as minhas firmezas, e ao longo do processo isso se revelou. Ao imergir à minha história, ao meu passado, experimento a força geradora pulsante, e a potência que o resgate à minha ancestralidade provoca. Dou início a um processo de acolhimento, de trazer para perto as dores, e assim ressignificá-las. Um caminho de autocuidado e curador se apresenta, e não só para mim, mas à memória das que vieram antes, nessa constelação familiar. Reaprendo com a presença das mulheres, fortifico. Minha mãe, que aprendeu com a sua mãe, que aprendeu com a minha avó, a fazedura da vida. E nessa movimentação eu arvoro, trazendo  fúria ao meu devir, e reafirmo a urgência em me-ser, em todas as suas complexidades. Na medida em que rememoro minha história, para antes da minha própria existência. Percebo então, através dessa experiência, que passado, presente e futuro coexistem, transparecendo que para ser árvore, eu preciso ser raiz.

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La madre raiz

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Provando minha força, que nasceu antes de mim. Foi ela, la fuerza, quem me fez nascer dormindo, literalmente. Pronta pra fazer o sonho acontecer. Minha avó materna quem me acolheu primeiro nessa jornada em ser Carinne. E quando me pegou nas mãos, disse: “Essa menina nasceu dormindo...” Conta minha mãe que ela quem decidiu me acordar. E sou grata, minha vó, pelo teu gesto, por esse despertar pra vida, por ter sido você. Talvez por isso eu te sinta tanto!  Y gracias por minha mãe, sempre, por ter sido a potência-viva-geradora que me gestou. Mas sabe vó, às vezes eu tenho desejo de viver apenas no sonho, dentro da dobra do olho, imensar o escuro, sabe? Aquilo sobre escurecer processos. Sinto que lá o mistério se revela sem medo, de modo que eu aconteço por inteira.

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Bambina, bamba ou eterna Lourdinha. Mãe de meu pai, minha avó que de avó não tinha era nada. E eu amava isso! Sempre jovem. Batom vermelho nos lábios finos. Permanente no cabelo. Vaidosa.

Lourdes. Mulher branca de mãe e pai vindos de Portugal, se apaixonou por um preto. Laumir. Casou-se com ele. Julgada por isso. Traída. Divorciada, por sua escolha, 3 filhos pequenos. Ela bebia frequentemente. Amava fumar,  mas nada era maior que o seu amor pelo samba. Julgada. Salve Mocidade Independente de Padre Miguel, bateria não existe mais quente! Orgulhosa de seu bairro, de suas raízes. Só andava com viado e sapatão. Sua filha sapataona sempre foi acolhida por ela. Julgada. Canceriana inteira, daquelas que sofria e tomava diazepam, e eu me pergunto quem pode julgar? Hoje eu te entendo melhor, bambina. Te sinto, e honro tua existência subversiva, na luta em me-ser. A gente dá pro mundo o que pode, né vó? E tá tudo bem. E às vezes, penso que dar muita confiança é permitir que ele nos devore.

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O meu tempo se constrói para dentro

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A mãe de meu pai e sua mãe, Maria

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Maria de Faria

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Futuro e passado do marido de Maria. Hermenegildo, avô materno de meu pai.

Me parece que el tiempo hace que todo caiga. Lo que me lleva a mirar dentro.

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A última filha. A caçula de três mulheres. A primeira brasileira da família dela. Lourdes, minha avó paterna.

Un poco acerca de mis otras

Antes de apresentar algumas outras formas de me-ser, sinto a necessidade de falar da gratidão pelos momentos partilhados no Projeto de Pesquisa “Arte e Natureza: Poéticas e Pedagogias da Mãe Terra”, que são gratificantes para mim, principalmente, porque acredito muito nessa potência que existe em criar com, construir-se com a outra e a partir da outra, e das diversas perspectivas geradores de SER, proporcionadas por encontros. O outro para mim, que não necessariamente é da espécie humana, importante ressaltar. Embora, em nossa pesquisa isso já esteja manifestado em todes nós. Estamos constantemente  permitindo que nos incorporem. Do ar que inspiramos e expiramos, trazendo a possibilidade do respiro, à pedra recolhida no caminho que vira matéria de poesia.  Antes da minha imersão real no projeto,  eu acreditava na possibilidade de incorporar o que a natureza desnudava, como se fosse uma escolha apenas minha. Hoje, sinto fortemente o desnudar de mim, conforme a natureza me incorpora. Como uma dança, e uma vontade dessas partes deixadas, o desejo e a escolha da incorporação, ou melhor, de ambas as partes, minha e delas. Um mover com, e talvez por isso a mudança do caso do pronome pessoal, em minha pesquisa, que em um primeiro momento estava em caso reto: “O que a natureza desnuda, EU incorporo”, para em um segundo momento aparecer de forma oblíqua, “O que a natureza desnuda, ME incorpora”.  Na experiência de in-corpor-ar, o vento sopra. Ou melhor, na in-corpor-ação: os gestos furiosos emergem. De modo que, mastigo meus vazios e o mistério evidencia-se para mim com gosto, tom, cheiros e cores. Alando o meu devir-corpa-natureza, o que inaugura mis outras.

Da escuta sensível, ao descascar de si através das relações inter-espécies, desnudando a existência e concebendo outras formas de me-ser

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Eu busco a verdade na curva das árvores. Nos galhos que despelaram. Eles revelam o ciclo por inteiro, de quem nasceu, viveu e cumpriu seu destino. O êxito das árvores são seus galhos nus e suas folhas ao chão que muitas delas eu recolho. Existe um desejo em mim em devorar essa completude, para dar sentido aos meus vazios.


 

Fotoperformance “O que a natureza desnuda, eu incorporo”, feita em parceria com o artista Thiago Daltin. O nome do trabalho foi criado por mim, através das investigações na disciplina, Curso Monográfico em Artes Visuais, na UNILA. Onde esse acontecimento geopético foi afetuosamente construído entre Thiago e eu.

No princípio  era o verbo. E  o verbo  era o galho, e o  galho, é o princípio de tudo que me evoca

 

“Todas as coisas foram feitas através dele,

 e sem ele nada do que foi feito se fez.” João 1:3








 

Grave to 

To grave to.

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Mis ramas genéticas

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corpo planta

planta corpo

minha anatomia é vegetal

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Desvelando el cuerpo-planta. Yo impiezo por mis manos y revelo el secreto detrás de mis gestos. Y el desarrollo sigue, a lo largo de mi existencia!

Valor das obras, tratar com a artista.  

 

Contato: @carinnelira_ 


 

Todas as obras são colagens digitais.

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